domingo, 18 de dezembro de 2011

À minha tia e madrinha

Não passei por este mundo em brandas nuvens.
Fui alegre e triste, sorri, gritei, ofendi, perdoei.
Amei, fui amada e distribui amor.
E também fui Mulher, Mãe, Filha e Irmã.
Viajei, fiz amigos e trabalhei.
Peguei sol e dancei na chuva, dirigi carro mas faltou o avião.
Cheguei em casa cansada emburrada e esfacelei-me de dor;
Acordei feliz, como se sempre tivesse sido assim.
Vivi cada dia intensamente.
Agora descanso entre as estrelas.
Quando pensar em mim, recorde como eu era, alegre e ativa.
Faça como eu, procure unir sua família, fale de um irmão a outro
e converse sempre com sua mãe.
Beije seus filhos e, antes de chamar-lhes a atenção,
diga que os ama.
As lágrimas de saudade serão sempre bem-vindas,
mas as de tristeza pela minha partida não.
E lembre-se, seja FELIZ a partir de hoje.
Não deixe para depois.

Mar 2, '05 5:57 PM

Sobre a paz, Daisaku Ikeda

"A paz não é um conceito abstrato e remoto de nossa vida diária. É uma questão de como cada um de nós planta e cultiva as sementes da paz em nosso mundo real, em nosso cotidiano, nas profundezas de nosso ser e por toda nossa vida. Tenho certeza de que nisso se encontra o caminho mais seguro para a paz duradoura." (Daisaku Ikeda)

Mar 2, '05 4:46 PM

Menina das duas tranças, Vinícius de Moraes

Desde criança sou encantada com essa música, bem antes de entender o que queria dizer palavras como: esconjuro, quebranto e mostração.

Menina das duas tranças
Deixe o meu filhinho em paz
Que ele ainda é muito criança
Pras coisas que você faz
Baixa o seu olhar escuro
Cubra esse peitinho em flor
Que ele ainda não está maduro
Prá essa escuridão de amor
Vá se embora, te esconjuro, deixe o filho meu
Basta neste negro mundo o que o pai sofreu
Menina das duas tranças deixe o meu paizinho em paz
Que ele não é mais criança pras coisas que você faz
Pare de deitar quebranto, chega dessa mostração
Que meu pai já sofreu tanto só viveu desilusão
Vá se embora, te esconjuro, deixe em paz meu pai

Jan 28, '05 11:05 PM

um pouco de Cecília


Primeiro, foram os verdes e águas e pedras da tarde.
E meus sonhos de perder-te, e meus sonhos de encontrar-te.
Mas depois houve caminhos pelas florestas lunares,
E mortos em meus ouvidos,
Mares brancos de palavras.
E eram flores encarnadas por cima das folhas verdes.
( e entre os espinhos de prata,
só meus sonhos de perder-te...)

Cecília Meireles

Jan 28, '05 10:51 PM

Quem Te Viu, Quem Te Vê, Chico Buarque

Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Hoje o samba saiu, lá lalaiá, procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Quando o samba começava você era a mais brilhante
E se a gente se cansava você só seguia a diante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado

O meu samba assim marcava na cadência os seus passos
O meu sonho se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você me assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade por favor não de na vista
Bate palma com vontade, faz de conta que é turista

Jan 28, '05 10:46 PM

O que fazer com presentes esquisitos?


Com a proximidade do meu aniversário fiquei pensando nessa questão de dar presentes. É muito engraçado lembrar dos presentes absurdos que já recebi (e provavelmente dei também).
Sou do tipo de pessoa que o cai nas minhas mãos eu leio, mas já consegui receber cada livro que não consegui sequer passar da primeira página. Também já ganhei roupas que fiquei um tanto amedrontada ao pensar que aquela pessoa em algum momento imaginou que eu pudesse usar aquilo. Quando eu morava sozinha ganhei um conjunto de copos que realmente me fez repensar minha existência: o que eu passo para as pessoas ao meu redor?
Teve uma época que só ganhava um perfume do Boticário, o Thaty. Chegava a receber 3 ou 4 no mesmo aniversário, fora os que eu tinha recebido no Natal. O único problema é que eu sou terrivelmente alérgica a esse perfume (e a tantos outros). Então eu ia dando esses perfumes pros amigos. Até que uma amiga minha recebeu de volta o que tinha me dado, tentei brincar dizendo que não era o mesmo. Mas no final das contas falei: "Se não gosta desse perfume por que me deu? Ora bolas!" Depois rimos muito e nunca mais ela me deu um Thaty, agora a especialidade dela é o Insensatez, outro perfume do Boticário. Será que pega mal se eu disser que não uso perfume de lá? Pega, né? Então, quando saímos juntas eu uso esse perfume. É minha amiga, pôxa.
Uma vez fiz uma lista de presentes, claro que só consegui ganhar o que menos queria da lista. Mas ali foi erro meu, quem mandou eu colocar aquilo na lista? Pra quem quiser fazer lista seja de aniversário, casamento ou do que for, vai uma dica: deixe para o final o que realmente quer. Por que funciona desse jeito eu não sei. De uns tempos pra cá, devido a dureza dos meus amigos, recebo só um ou dois presentes no meu aniversário. Ainda bem! Não saberia o que fazer com tanto presente esquisito. Tem uma amiga minha que sempre acerta. Mas eu acho que não acerto com ela, no último Natal ela me deu duas meias coloridas que eu havia dado a ela em seu aniversário... Ops! Minha culpa, minha máxima culpa! Errei,... o que fazer?
Tem outras pessoas que,... tenho até medo. Inclusão para ex-namorados que na época eram atuais. Depois que ganho o presente indevido, e abro na frente da pessoa vem o primeiro pensamento: O que diabo vou fazer com isso? E depois aquele risinho meio cínico e um tanto lacônico e no final: "Nossa obrigada pela lembrança." Porque, afinal de contas, é isso mesmo, aquela pessoa se lembrou do meu aniversário, foi atrás de algo pra mim e isso é o que realmente tem valor.

ps: Se alguém for me dar algum presente, por favor primeiro pense: você gostaria de recebê-lo?

Jan 23, '05 10:31 AM
para todos

Canção dos anjos exaustos, Nei Duclós

(Para Caio Fernando Abreu)

Os anjos exaustos do Continente
com plumas molhadas pelo minuano
desertaram os carnívoros exércitos

Levaram no bolso bulas de silêncio
lenços ciganos, mapas pela metade
essências cifradas em livros de latim

Partiram em desordem pelo vento
todos ao mesmo tempo, como potros
Montados em fogo na busca do mar

Despiram o vidro das esporas
arrancaram palavras dos trilhos
cercaram de conchas o paiol

Seguiram o rumo dos rios mansos
os rios alheios ao rumor das tropas
de margens caladas como baionetas

Sentiam sede os anjos exaustos
sede do sal que não amargasse
da água azul que não fosse covardia

Os passos soavam como porcelanas
as asas eram grandes pincéis
os olhos, bruscas mudanças de lua


Assim aportaram nas praias de sangue
engatilharam flores na fronteira
com o nome riscado por punhais

Os anjos exaustos do Continente
negaram mil vezes os velhos heróis
e cobriram com cinzas as vigílias

Afastaram-se das ordens do clarim
dos olhos torcidos como lençóis
dos cavaleiros reduzidos a leões

Trocaram o torpe destino pelo desatino
puseram a prêmio o frágil rosto de cera
gravaram na pedra seu resoluto caminho

Por isso Deus puniu-os com a eternidade
farto do fatídico desperdício que é ver partir
um filho moço, de olhar encharcado de sonho



Nei Duclós (www.outubro.blogspot.com)

© Nei Duclós - todos os direitos reservados

Jan 11, '05 11:18 AM

Que este amor não me cegue nem me siga, Hilda Hilst


Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua de estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.

Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.

Que este amor só me veja de partida.

Jan 10, '05 11:40 AM

Modinha, Cecília Meireles


Tuas palavras antigas
Deixei-as todas, deixei-as,
Junto com as minhas cantigas,
Desenhadas nas areias.

Tantos sóis e tantas luas
Brilharam sobre essas linhas,
Das cantigas — que eram tuas —
Das palavras — que eram minhas!

O mar, de língua sonora,
Sabe o presente e o passado.
Canta o que é meu, vai-se embora:
Que o resto é pouco e apagado.


Melhores poemas, Global Editora, 1984 - S.Paulo, Brasil

Jan 10, '05 11:32 AM

Preciso Dizer Que Te Amo, Cazuza

(Acho que acordei apaixonada hoje. Então um pouco de Cazuza,...)

Quando a gente conversa
Contando casos besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei que hora dizer
Me dá um medo (que medo...)
Eu preciso dizer que te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que te amo, tanto
E até o tempo passa arrastado
Só para eu ficar ao teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre, e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser teu amigo (que amigo!)
Que eu preciso dizer que te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Que eu preciso dizer que eu te amo, tanto

Jan 10, '05 11:25 AM

Fumo, Florbela Espanca


Longe de ti são ermos os caminhos.
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são outonos: choram... choram...
Há crisantemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...


Poemas de Florbela Espanca, Martins Fontes, 1996 - S. Paulo, Brasil

Dec 29, '04 6:07 AM

Febre 40°, Sylvia Plath


Pura? Como assim?
As línguas do inferno
São sujas, sujas como as três

Línguas do sujo e gordo Cérbero
Que arfa ao portão. Incapaz
De lamber e limpar

O membro em febre, o pecado, o pecado.
A chama chora.
O cheiro inconfundível

De um toco de vela!
Amor, amor, a fumaça escapa de mim
Como a echárpe de Isadora, e temo

Que uma das pontas ancore-se na roda.
Uma fumaça amarela e lenta assim
faz de si seu elemento. Não vai subir,

Mas envolver o globo
Sufocando o velho e o oprimido,
O frágil

Bebê em seu berço,
Orquídea pálida
Suspensa em seu jardim suspenso no ar,

Leopardo diabólico!
A radiação o embarque
E o mata em uma hora.

Engordurando os corpos dos adúlteros
Como as cinzas de Hiroshima que os devora.
O pecado. O pecado.

Meu bem, passei a noite
Me virando, indo e vindo, indo e vindo,
Os lençóis me oprimindo como o beijo de um devasso.

Três dias. Três noites.
Limonada, canja
Aguarda, água me deixe enjoada.

Sou pura demais pra você ou pra qualquer um.
Seu corpo
Me ofende como o mundo ofende Deus. Sou uma lanterna -

Minha cabeça uma lua
De papel japonês, minha pele folheada a ouro
Infinitamente delicada e infinitamente cara.

Meu calor não te assusta. Nem minha luz.
Sou uma camélia imensa
Que oscila e jorra e brilha, gozo a gozo.

Acho que estou chegando,
Acho que posso levantar -
Contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu

Sou uma virgem pura
De acetileno
Cercada de rosas,

De beijos, de querubins,
Ou do que sejam essas coisas róseas.
Não você, nem ele,

Não ele, nem ele
(Eu me dissolvo toda, anágua de puta velha) -
Ao Paraíso.


Tradução de Rodrigo G. Lopes e Maurício A. Mendonça
Poemas, Editora Iluminuras, 1994 - S.Paulo, Brasil

Dec 19, '04 9:21 PM

Aquele outro não via, Hilda Hilst


Aquele outro não via minha muita amplidão
Nada lhe bastava. Nem ígneas cantigas.
E agora vã, te pareço soberba, magnífica
E fodes como quem morre a última conquista
E ardes como desejei arder de santidade.
(E há luz na tua carne e tu palpitas.)

Ah, por que me vejo vasta e inflexível
Desejando um desejo vizinhante
De uma fome irada e obsessiva?


Dec 19, '04 9:10 PM

Tem coisa melhor?



*Se apaixonar pela pessoa certa e ser correspondido.
*Rir a ponto de não agüentar mais.
*Um banho quente num dia de muito frio.
*Sem limites em um supermercado.
*Aquela encarada de fazer tremer.
*Receber e-mail de alguém que vc gosta e que não manda nunca.
*Dirigir por um lindo caminho.
*Escutar sua música favorita tocar no rádio.
*Deitar na cama e escutar a chuva cair.
*Cheiro de terra molhada.
*Pegar aquela chuva de verão e dar um beijo na chuva.
*Toalhas ainda quentes, recém passadas.
*Descobrir que a blusa que vc quer esta em promoção pela metade do preço.
*Um milkshake de chocolate (ou de ovomaltine)
*Uma ligação de alguém que está distante.
*Um banho de espuma.
*Uma boa conversa.
*Achar uma nota de R$ 50 no casaco do inverno passado.
*Rir de vc mesmo(a).
*Ligações depois da meia-noite que duram horas.
*Rir sem motivo nenhum.
*Ter alguém pra dizer o quanto você é linda(o).
*Rir de algo que acabou de lembrar.
*Amigos.
*Acidentalmente ouvir alguém falando bem de você.
*Acordar e descobrir que ainda pode dormir por mais algumas horas. *Gastar tempo com os velhos amigos ou fazer novos.
*Brincar com o novo bichinho de estimação.
*Ter alguém mexendo no seu cabelo.
*Sonhar com coisas boas.
*Realizar um sonho antigo.
*Chocolate quente.
*Viajar com os amigos.
*Empacotar presentes debaixo da árvore de Natal enquanto come biscoito de Chocolate.
*Letras de música no encarte do seu novo CD pra poder cantar junto sem se sentir idiota.
*Ir a um ótimo show.
*Encarar um(a) lindo(a) desconhecido (a)
*Ganhar um jogo super disputado.
*Fazer bolo de chocolate e raspar a panela da calda.
*Ganhar dos amigos biscoitos feitos em casa.
*Segurar na mão de alguém que vc realmente gosta.
*Encontrar um velho amigo e perceber que algumas coisas (boas ou ruins) nunca mudam.
*Ver a expressão no rosto de alguém quando abre o seu tão esperado presente.
*Olhar o nascer do sol.
*Conseguir enxergar essas pequenas coisas boas da vida e saber dar muito valor a isso.
*Ter sorte.
*Acordar toda manhã e agradecer por mais um lindo dia.

Dec 16, '04 12:05 PM

Um beijo

que tivesse um blue.
Isto é
imitasse feliz a delicadeza, a sua,
assim como um tropeço
que mergulha surdamente
no reino expresso do prazer.

Espio sem um ai
as evoluções do teu confronto
à minha sombra
desde a escolha
debruçada no menu;
um peixe grelhado
um namorado
uma água sem gás
de decolagem:
leitor embevecido
talvez ensurdecido
"ao sucesso"
diria meu censor "à escuta"
diria meu amor

Ana Cristina César

A teus pés, Global Brasiliense, 1993 - S.Paulo, Brasil
Nov 19, '04 1:37 PM

Lampejos de dor



E de novo essa dor desmedida
Que domina a alma
Um grito de luz no escuro
O breu dolorido
Espanta qualquer alegria passável
Lampejos de amplidão
De sentir-se menos perdida
No resto do tempo
Dor angústia
Que não passa
Vontade de fugir desaparecer
E cá estou fingindo-me presente
A cabeça longe dando voltas
O ficar aqui irrita
Busco o vinho, a maconha, o pó
Mas nada adianta
Isso não pára.
É a dor fina do estilete
A fuga do riso fácil da leitura banal,
Das pessoas que não acrescentam nada
Qualquer coisa, qualquer gente
Mais um se foi...
Perdida inebriada
Na vida incessante
Quando vai parar?


Nina Z.
Nov 19, '04 8:57 AM