Tem esses dias que bate uma tristeza sem fim
que entra na alma sem pedir licença
fazendo de um simples respirar
algo difícil, dolorido e conturbado
Tem esses dias que a gente chora por dentro
e não consegue colocar nada pra fora
que a gente ri falsamente
finge que se importa
e se esconde das outras pessoas
Tem esses dias que é difícil sair da cama,
que a gente nega convite pro teatro
mesmo de um amigo muito amado,
que a gente não vai na aula
mesmo sendo a do professor mais querido
Tem esses dias de pânico e temor
que transforma tudo num verdadeiro horror
que o desespero toma conta
e tudo parece um enorme buraco
frio, sujo, fundo e sem saída
Tem esses dias que a gente não sabe se conseguirá chegar no próximo dia.
Menina das meias coloridas
Eu quis dar uma casa nova para antigos textos (meus e de outros que, de alguma forma, mexeram comigo). Entre 2004 e 2008, eu usei o Multiply, nele conheci várias pessoas interessantes, escrevi muito (bastante inspirada por Caio Fernando Abreu e Sylvia Plath), tive contato com muita música, poesia, fotografia e outras artes em geral. Os textos estão desordenados porque o Multiply acabou, o computador antigo incendiou e muito não foi salvo como deveria.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
O fim
Tudo cinza num dia cinza.
Dia de Bruxelas, de vazio.
De Esperando Godot
(ele quer saber se dói, é claro que dói)
e machucado sangrando.
Falta um pedaço, é Bergman.
Não está no lugar devido.
Vontade de falar
e não ter nada a dizer.
Ficar na chuva
Sentindo-a pelo corpo.
Encharcando a pele
E secando a alma.
Dia longo
De querer esquecer.
Acordar do pesadelo
e ser abraçada com força e virilidade.
Depois ser acariciada e beijada,
E, por fim, sentir-se meio puta, dilacerada, só.
Cheia de máscaras.
O pesadelo é real,
Não existe nenhum abraço a ser sentido
Só tapa,
Porrada na alma, nas entranhas.
O grito que sai lá de dentro e se cala.
Boca seca, garganta presa.
Meio “Sem Ana, blues”.
Vida dividida:
Antes e depois.
Quisera não ter havido,...
E como saberia que dias cinzas existem?
Um dia passa, sempre passa,...
Ser inteiro e desintegrar-se.
Milhares de estilhaços.
Dificuldade em catá-los.
Montar uma nova estrutura,
Um recomeço.
Ainda não é hora de fazer nada.
E quando será?
Ficar observando
Estudar o brilho, a textura.
Estilhaço de vidro,
De vida.
De sonho desfeito,
A bela adormecida que jamais acordará.
E no final,
As cortinas se fecham
E vêm os aplausos,...
É estranho quando eles demoram.
E quando eles não chegam?
Dia de Bruxelas, de vazio.
De Esperando Godot
(ele quer saber se dói, é claro que dói)
e machucado sangrando.
Falta um pedaço, é Bergman.
Não está no lugar devido.
Vontade de falar
e não ter nada a dizer.
Ficar na chuva
Sentindo-a pelo corpo.
Encharcando a pele
E secando a alma.
Dia longo
De querer esquecer.
Acordar do pesadelo
e ser abraçada com força e virilidade.
Depois ser acariciada e beijada,
E, por fim, sentir-se meio puta, dilacerada, só.
Cheia de máscaras.
O pesadelo é real,
Não existe nenhum abraço a ser sentido
Só tapa,
Porrada na alma, nas entranhas.
O grito que sai lá de dentro e se cala.
Boca seca, garganta presa.
Meio “Sem Ana, blues”.
Vida dividida:
Antes e depois.
Quisera não ter havido,...
E como saberia que dias cinzas existem?
Um dia passa, sempre passa,...
Ser inteiro e desintegrar-se.
Milhares de estilhaços.
Dificuldade em catá-los.
Montar uma nova estrutura,
Um recomeço.
Ainda não é hora de fazer nada.
E quando será?
Ficar observando
Estudar o brilho, a textura.
Estilhaço de vidro,
De vida.
De sonho desfeito,
A bela adormecida que jamais acordará.
E no final,
As cortinas se fecham
E vêm os aplausos,...
É estranho quando eles demoram.
E quando eles não chegam?
Nov 19, '04 9:04 AM
Lorelei - Sylvia Plath
Não existe nenhuma noite para nos afogarmos:
lua cheia, um rio correndo
negro sob um suave reflexo de espelho,
névoas azuis da água gotejando
de malha para malha como redes de pesca
embora os pescadores durmam,
torres sólidas do castelo
multiplicando-se num espelho
todo ele silêncio. Mas estas formas flutuam
em minha direção, perturbando o rosto
da quietude. Do nadir
erguem os seus membros plenos
de opulência, cabelos mais pesados
que o mármore esculpido. Cantam
um mundo mais cheio e límpido
do que aquele que existe. Irmãs, a vossa canção
traz uma carga demasiado pesada
para ser escutada pelas espirais do ouvido,
aqui, num país onde um sensato
senhor governa equilibradamente.
Ao serem perturbadas pela harmonia
que existem além da ordem deste mundo,
as vossas vozes fazem um cerco. Estais alojadas
nos recifes em declive do pesadelo,
prometendo um abrigo certo;
de dia, estendem-se para além dos limites
da inércia, das saliências
que existem também nas altas janelas. Pior
ainda que esta canção de enlouquecer
é o vosso silêncio. Na origem
do apelo do vosso coração gelado
- a embriaguez das grandes profundezas.
Ó rio, como vejo serem arrastadas
lá no fundo do teu curso de prata,
aquelas grandes deusas da paz.
Pedra, pedra, leva-me lá para baixo.
Extraído de uma edição portuguesa/bilíngüe
tradutora Maria de Lourdes Guimarães
Editora : assírio&alvin
Cooperativa Editora e Livreira, CRL
Lisboa - Portugal
O livro : PELA ÁGUA - Sylvia Plath
lua cheia, um rio correndo
negro sob um suave reflexo de espelho,
névoas azuis da água gotejando
de malha para malha como redes de pesca
embora os pescadores durmam,
torres sólidas do castelo
multiplicando-se num espelho
todo ele silêncio. Mas estas formas flutuam
em minha direção, perturbando o rosto
da quietude. Do nadir
erguem os seus membros plenos
de opulência, cabelos mais pesados
que o mármore esculpido. Cantam
um mundo mais cheio e límpido
do que aquele que existe. Irmãs, a vossa canção
traz uma carga demasiado pesada
para ser escutada pelas espirais do ouvido,
aqui, num país onde um sensato
senhor governa equilibradamente.
Ao serem perturbadas pela harmonia
que existem além da ordem deste mundo,
as vossas vozes fazem um cerco. Estais alojadas
nos recifes em declive do pesadelo,
prometendo um abrigo certo;
de dia, estendem-se para além dos limites
da inércia, das saliências
que existem também nas altas janelas. Pior
ainda que esta canção de enlouquecer
é o vosso silêncio. Na origem
do apelo do vosso coração gelado
- a embriaguez das grandes profundezas.
Ó rio, como vejo serem arrastadas
lá no fundo do teu curso de prata,
aquelas grandes deusas da paz.
Pedra, pedra, leva-me lá para baixo.
Extraído de uma edição portuguesa/bilíngüe
tradutora Maria de Lourdes Guimarães
Editora : assírio&alvin
Cooperativa Editora e Livreira, CRL
Lisboa - Portugal
O livro : PELA ÁGUA - Sylvia Plath
Sep 17, '07 7:21 PM
Monstro
Olho-me no espelho
E vejo um monstro querendo sair
Ele é feio sujo despudorado até.
Sórdido e canhestro.
Amedronto-me,
Tento trancá-lo.
Prefiro ficar em casa,
Do que deixá-lo soltar-se na rua.
Temo pelo que poderia acontecer.
Há um caminho sem volta
Caso o desprenda.
Arredio, visceral.
É o monstro que quer sair, dançar, enlouquecer.
Não.
Hoje ficarei em casa.
Enquanto vê-lo ao me olhar no espelho,
Ficarei em casa.
Prendo-o aqui.
Até conseguir fazer com que ele suma,...
Ficarei aqui.
E vejo um monstro querendo sair
Ele é feio sujo despudorado até.
Sórdido e canhestro.
Amedronto-me,
Tento trancá-lo.
Prefiro ficar em casa,
Do que deixá-lo soltar-se na rua.
Temo pelo que poderia acontecer.
Há um caminho sem volta
Caso o desprenda.
Arredio, visceral.
É o monstro que quer sair, dançar, enlouquecer.
Não.
Hoje ficarei em casa.
Enquanto vê-lo ao me olhar no espelho,
Ficarei em casa.
Prendo-o aqui.
Até conseguir fazer com que ele suma,...
Ficarei aqui.
Jul 29, '05 10:26 PM
Um desabafo
É difícil festejar
quando o coração
ainda está de luto
quando depois do choro
ainda se precisa de silêncio.
quando o coração
ainda está de luto
quando depois do choro
ainda se precisa de silêncio.
Jul 24, '05 12:54 AM
Itinerário - Caio Fernando Abreu
Em luta, meu ser se parte em dois. Um que foge, outro que aceita. O que aceita diz: não. Eu não quero pensar no que virá: quero pensar no que é. Agora. No que está sendo. Pensar no que ainda não veio é fugir, buscar apoio em coisas externas a mim, de cuja consistência não posso duvidar porque não a conheço. Pensar no que está sendo, ou antes, não, não pensar, mas enfrentar e penetrar no que está sendo é coragem. Pensar é ainda fuga: aprender subjetivamente a realidade de maneira a não assustar. Entrar nela significa viver.
Jul 25, '05 7:16 PM
Jul 25, '05 7:16 PM
Adeus ao Pablo
Eu não sei bem o que dizer,
Tudo ainda continua confuso,
Tem aquelas horas em que parece que esqueço,
Como se ele ainda estivesse aqui,
Só viajando,
Mas que fosse voltar a qualquer hora
E a gente se esbarrasse
E de repente estaríamos conversando sobre novos projetos
Ou dando sugestões de bons documentários um pro outro,
Sei que agora está sendo mais difícil,
Que, aos poucos,
A imagem dele vai sumir,
O cheiro dele vai desaparecer,
O som da voz dele se apagará dos meus ouvidos,
Mas agora...
Agora dói tanto,
Eu sei que vai passar,
Que daqui a um ano doerá menos
E daqui a dois anos menos ainda,
Depois a lembrança dele ficará cada vez mais remota
E quem sabe um dia não mais existirá,...
Nesse dia,
Outros, talvez, também já tenham ido embora,
E, se eu não for antes,
Começarei a fazer a lista daqueles que já partiram,
Mas isso é para depois,
Agora só existe essa saudade absurda
Que vai tomando conta
E a certeza de que nunca mais irei vê-lo,
Não haverá mais brincadeiras
Nem discussões na mesa de edição,
Nós não iremos mais para Pancas
E nem faremos matérias sobre esportes radicais,
A partir de agora
Não haverá mais motivo para fazer hora dentro do estúdio
E nem ir almoçar naqueles restaurantes do tipo “pé sujo”,
Agora ele não verá os novos equipamentos
E nós não mais faremos o nosso curta com o texto dele,
Agora nós não nos formaremos juntos
E nem encheremos a cara depois de receber o canudo,
Agora não teremos mais planos de novos projetos,
Não iremos mais ao cinema,
Não mais conversaremos no ponto de ônibus
E nem comemoraremos juntos o nosso aniversário,
A partir de agora
Ele não mais comentará sobre as meninas que passam pela ilha,
Não me ajudará quando eu estiver sem idéia para uma matéria
E nem me salvará quando eu tiver feito uma edição ruim,
Agora ele não mais reclamará do meu cigarro,
Não me olhará meio de lado
Quando eu falar sobre algum menino que eu esteja interessada
E nem ficará mais preocupado com os meus desmaios,
Não me dará bronca porque eu não almocei
E nem vai falar das novas fotos que ele tirou em Ilha Grande,
Agora eu tive de tirar o celular dele da memória do meu,
E não mais esperarei que ele me telefone,
A partir de agora
Não perguntarei a ele em que disciplinas estamos juntos
E nem sei mais se vou conseguir trabalhar no estúdio sem ele,
Agora eu não mais terei meu livro de fotos sobre o Rio
E nem as fitas que estavam com ele,
Agora eu não terei mais a alegria de saber que vou vê-lo todos os dias,
Não falarei as coisas que não foram ditas,
Não deixarei para conversar depois,
Agora não poderei mais dizer que o amava.
A partir de agora
Eu tenho menos um amigo,
... E se gasta tanto tempo para fazer um,...
Agora eu penso nele todos os dias,
Mas um dia,
Um dia
Ele terá sido apenas mais uma pessoa
Que passou pela minha vida
E me ensinou a ser uma pessoa melhor.
Tudo ainda continua confuso,
Tem aquelas horas em que parece que esqueço,
Como se ele ainda estivesse aqui,
Só viajando,
Mas que fosse voltar a qualquer hora
E a gente se esbarrasse
E de repente estaríamos conversando sobre novos projetos
Ou dando sugestões de bons documentários um pro outro,
Sei que agora está sendo mais difícil,
Que, aos poucos,
A imagem dele vai sumir,
O cheiro dele vai desaparecer,
O som da voz dele se apagará dos meus ouvidos,
Mas agora...
Agora dói tanto,
Eu sei que vai passar,
Que daqui a um ano doerá menos
E daqui a dois anos menos ainda,
Depois a lembrança dele ficará cada vez mais remota
E quem sabe um dia não mais existirá,...
Nesse dia,
Outros, talvez, também já tenham ido embora,
E, se eu não for antes,
Começarei a fazer a lista daqueles que já partiram,
Mas isso é para depois,
Agora só existe essa saudade absurda
Que vai tomando conta
E a certeza de que nunca mais irei vê-lo,
Não haverá mais brincadeiras
Nem discussões na mesa de edição,
Nós não iremos mais para Pancas
E nem faremos matérias sobre esportes radicais,
A partir de agora
Não haverá mais motivo para fazer hora dentro do estúdio
E nem ir almoçar naqueles restaurantes do tipo “pé sujo”,
Agora ele não verá os novos equipamentos
E nós não mais faremos o nosso curta com o texto dele,
Agora nós não nos formaremos juntos
E nem encheremos a cara depois de receber o canudo,
Agora não teremos mais planos de novos projetos,
Não iremos mais ao cinema,
Não mais conversaremos no ponto de ônibus
E nem comemoraremos juntos o nosso aniversário,
A partir de agora
Ele não mais comentará sobre as meninas que passam pela ilha,
Não me ajudará quando eu estiver sem idéia para uma matéria
E nem me salvará quando eu tiver feito uma edição ruim,
Agora ele não mais reclamará do meu cigarro,
Não me olhará meio de lado
Quando eu falar sobre algum menino que eu esteja interessada
E nem ficará mais preocupado com os meus desmaios,
Não me dará bronca porque eu não almocei
E nem vai falar das novas fotos que ele tirou em Ilha Grande,
Agora eu tive de tirar o celular dele da memória do meu,
E não mais esperarei que ele me telefone,
A partir de agora
Não perguntarei a ele em que disciplinas estamos juntos
E nem sei mais se vou conseguir trabalhar no estúdio sem ele,
Agora eu não mais terei meu livro de fotos sobre o Rio
E nem as fitas que estavam com ele,
Agora eu não terei mais a alegria de saber que vou vê-lo todos os dias,
Não falarei as coisas que não foram ditas,
Não deixarei para conversar depois,
Agora não poderei mais dizer que o amava.
A partir de agora
Eu tenho menos um amigo,
... E se gasta tanto tempo para fazer um,...
Agora eu penso nele todos os dias,
Mas um dia,
Um dia
Ele terá sido apenas mais uma pessoa
Que passou pela minha vida
E me ensinou a ser uma pessoa melhor.
***
Devo ter escrito entre agosto e setembro de 2001.
Aug 6, '05 8:54 PM
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