quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O fim

Tudo cinza num dia cinza.
Dia de Bruxelas, de vazio.
De Esperando Godot
(ele quer saber se dói, é claro que dói)
e machucado sangrando.
Falta um pedaço, é Bergman.
Não está no lugar devido.
Vontade de falar
e não ter nada a dizer.
Ficar na chuva
Sentindo-a pelo corpo.
Encharcando a pele
E secando a alma.
Dia longo
De querer esquecer.
Acordar do pesadelo
e ser abraçada com força e virilidade.
Depois ser acariciada e beijada,
E, por fim, sentir-se meio puta, dilacerada, só.
Cheia de máscaras.
O pesadelo é real,
Não existe nenhum abraço a ser sentido
Só tapa,
Porrada na alma, nas entranhas.
O grito que sai lá de dentro e se cala.
Boca seca, garganta presa.
Meio “Sem Ana, blues”.
Vida dividida:
Antes e depois.
Quisera não ter havido,...
E como saberia que dias cinzas existem?
Um dia passa, sempre passa,...
Ser inteiro e desintegrar-se.
Milhares de estilhaços.
Dificuldade em catá-los.
Montar uma nova estrutura,
Um recomeço.
Ainda não é hora de fazer nada.
E quando será?
Ficar observando
Estudar o brilho, a textura.
Estilhaço de vidro,
De vida.
De sonho desfeito,
A bela adormecida que jamais acordará.
E no final,
As cortinas se fecham
E vêm os aplausos,...
É estranho quando eles demoram.
E quando eles não chegam?

Nov 19, '04 9:04 AM

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