Tem esses dias que bate uma tristeza sem fim
que entra na alma sem pedir licença
fazendo de um simples respirar
algo difícil, dolorido e conturbado
Tem esses dias que a gente chora por dentro
e não consegue colocar nada pra fora
que a gente ri falsamente
finge que se importa
e se esconde das outras pessoas
Tem esses dias que é difícil sair da cama,
que a gente nega convite pro teatro
mesmo de um amigo muito amado,
que a gente não vai na aula
mesmo sendo a do professor mais querido
Tem esses dias de pânico e temor
que transforma tudo num verdadeiro horror
que o desespero toma conta
e tudo parece um enorme buraco
frio, sujo, fundo e sem saída
Tem esses dias que a gente não sabe se conseguirá chegar no próximo dia.
Eu quis dar uma casa nova para antigos textos (meus e de outros que, de alguma forma, mexeram comigo). Entre 2004 e 2008, eu usei o Multiply, nele conheci várias pessoas interessantes, escrevi muito (bastante inspirada por Caio Fernando Abreu e Sylvia Plath), tive contato com muita música, poesia, fotografia e outras artes em geral. Os textos estão desordenados porque o Multiply acabou, o computador antigo incendiou e muito não foi salvo como deveria.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
O fim
Tudo cinza num dia cinza.
Dia de Bruxelas, de vazio.
De Esperando Godot
(ele quer saber se dói, é claro que dói)
e machucado sangrando.
Falta um pedaço, é Bergman.
Não está no lugar devido.
Vontade de falar
e não ter nada a dizer.
Ficar na chuva
Sentindo-a pelo corpo.
Encharcando a pele
E secando a alma.
Dia longo
De querer esquecer.
Acordar do pesadelo
e ser abraçada com força e virilidade.
Depois ser acariciada e beijada,
E, por fim, sentir-se meio puta, dilacerada, só.
Cheia de máscaras.
O pesadelo é real,
Não existe nenhum abraço a ser sentido
Só tapa,
Porrada na alma, nas entranhas.
O grito que sai lá de dentro e se cala.
Boca seca, garganta presa.
Meio “Sem Ana, blues”.
Vida dividida:
Antes e depois.
Quisera não ter havido,...
E como saberia que dias cinzas existem?
Um dia passa, sempre passa,...
Ser inteiro e desintegrar-se.
Milhares de estilhaços.
Dificuldade em catá-los.
Montar uma nova estrutura,
Um recomeço.
Ainda não é hora de fazer nada.
E quando será?
Ficar observando
Estudar o brilho, a textura.
Estilhaço de vidro,
De vida.
De sonho desfeito,
A bela adormecida que jamais acordará.
E no final,
As cortinas se fecham
E vêm os aplausos,...
É estranho quando eles demoram.
E quando eles não chegam?
Dia de Bruxelas, de vazio.
De Esperando Godot
(ele quer saber se dói, é claro que dói)
e machucado sangrando.
Falta um pedaço, é Bergman.
Não está no lugar devido.
Vontade de falar
e não ter nada a dizer.
Ficar na chuva
Sentindo-a pelo corpo.
Encharcando a pele
E secando a alma.
Dia longo
De querer esquecer.
Acordar do pesadelo
e ser abraçada com força e virilidade.
Depois ser acariciada e beijada,
E, por fim, sentir-se meio puta, dilacerada, só.
Cheia de máscaras.
O pesadelo é real,
Não existe nenhum abraço a ser sentido
Só tapa,
Porrada na alma, nas entranhas.
O grito que sai lá de dentro e se cala.
Boca seca, garganta presa.
Meio “Sem Ana, blues”.
Vida dividida:
Antes e depois.
Quisera não ter havido,...
E como saberia que dias cinzas existem?
Um dia passa, sempre passa,...
Ser inteiro e desintegrar-se.
Milhares de estilhaços.
Dificuldade em catá-los.
Montar uma nova estrutura,
Um recomeço.
Ainda não é hora de fazer nada.
E quando será?
Ficar observando
Estudar o brilho, a textura.
Estilhaço de vidro,
De vida.
De sonho desfeito,
A bela adormecida que jamais acordará.
E no final,
As cortinas se fecham
E vêm os aplausos,...
É estranho quando eles demoram.
E quando eles não chegam?
Nov 19, '04 9:04 AM
Lorelei - Sylvia Plath
Não existe nenhuma noite para nos afogarmos:
lua cheia, um rio correndo
negro sob um suave reflexo de espelho,
névoas azuis da água gotejando
de malha para malha como redes de pesca
embora os pescadores durmam,
torres sólidas do castelo
multiplicando-se num espelho
todo ele silêncio. Mas estas formas flutuam
em minha direção, perturbando o rosto
da quietude. Do nadir
erguem os seus membros plenos
de opulência, cabelos mais pesados
que o mármore esculpido. Cantam
um mundo mais cheio e límpido
do que aquele que existe. Irmãs, a vossa canção
traz uma carga demasiado pesada
para ser escutada pelas espirais do ouvido,
aqui, num país onde um sensato
senhor governa equilibradamente.
Ao serem perturbadas pela harmonia
que existem além da ordem deste mundo,
as vossas vozes fazem um cerco. Estais alojadas
nos recifes em declive do pesadelo,
prometendo um abrigo certo;
de dia, estendem-se para além dos limites
da inércia, das saliências
que existem também nas altas janelas. Pior
ainda que esta canção de enlouquecer
é o vosso silêncio. Na origem
do apelo do vosso coração gelado
- a embriaguez das grandes profundezas.
Ó rio, como vejo serem arrastadas
lá no fundo do teu curso de prata,
aquelas grandes deusas da paz.
Pedra, pedra, leva-me lá para baixo.
Extraído de uma edição portuguesa/bilíngüe
tradutora Maria de Lourdes Guimarães
Editora : assírio&alvin
Cooperativa Editora e Livreira, CRL
Lisboa - Portugal
O livro : PELA ÁGUA - Sylvia Plath
lua cheia, um rio correndo
negro sob um suave reflexo de espelho,
névoas azuis da água gotejando
de malha para malha como redes de pesca
embora os pescadores durmam,
torres sólidas do castelo
multiplicando-se num espelho
todo ele silêncio. Mas estas formas flutuam
em minha direção, perturbando o rosto
da quietude. Do nadir
erguem os seus membros plenos
de opulência, cabelos mais pesados
que o mármore esculpido. Cantam
um mundo mais cheio e límpido
do que aquele que existe. Irmãs, a vossa canção
traz uma carga demasiado pesada
para ser escutada pelas espirais do ouvido,
aqui, num país onde um sensato
senhor governa equilibradamente.
Ao serem perturbadas pela harmonia
que existem além da ordem deste mundo,
as vossas vozes fazem um cerco. Estais alojadas
nos recifes em declive do pesadelo,
prometendo um abrigo certo;
de dia, estendem-se para além dos limites
da inércia, das saliências
que existem também nas altas janelas. Pior
ainda que esta canção de enlouquecer
é o vosso silêncio. Na origem
do apelo do vosso coração gelado
- a embriaguez das grandes profundezas.
Ó rio, como vejo serem arrastadas
lá no fundo do teu curso de prata,
aquelas grandes deusas da paz.
Pedra, pedra, leva-me lá para baixo.
Extraído de uma edição portuguesa/bilíngüe
tradutora Maria de Lourdes Guimarães
Editora : assírio&alvin
Cooperativa Editora e Livreira, CRL
Lisboa - Portugal
O livro : PELA ÁGUA - Sylvia Plath
Sep 17, '07 7:21 PM
Monstro
Olho-me no espelho
E vejo um monstro querendo sair
Ele é feio sujo despudorado até.
Sórdido e canhestro.
Amedronto-me,
Tento trancá-lo.
Prefiro ficar em casa,
Do que deixá-lo soltar-se na rua.
Temo pelo que poderia acontecer.
Há um caminho sem volta
Caso o desprenda.
Arredio, visceral.
É o monstro que quer sair, dançar, enlouquecer.
Não.
Hoje ficarei em casa.
Enquanto vê-lo ao me olhar no espelho,
Ficarei em casa.
Prendo-o aqui.
Até conseguir fazer com que ele suma,...
Ficarei aqui.
E vejo um monstro querendo sair
Ele é feio sujo despudorado até.
Sórdido e canhestro.
Amedronto-me,
Tento trancá-lo.
Prefiro ficar em casa,
Do que deixá-lo soltar-se na rua.
Temo pelo que poderia acontecer.
Há um caminho sem volta
Caso o desprenda.
Arredio, visceral.
É o monstro que quer sair, dançar, enlouquecer.
Não.
Hoje ficarei em casa.
Enquanto vê-lo ao me olhar no espelho,
Ficarei em casa.
Prendo-o aqui.
Até conseguir fazer com que ele suma,...
Ficarei aqui.
Jul 29, '05 10:26 PM
Um desabafo
É difícil festejar
quando o coração
ainda está de luto
quando depois do choro
ainda se precisa de silêncio.
quando o coração
ainda está de luto
quando depois do choro
ainda se precisa de silêncio.
Jul 24, '05 12:54 AM
Itinerário - Caio Fernando Abreu
Em luta, meu ser se parte em dois. Um que foge, outro que aceita. O que aceita diz: não. Eu não quero pensar no que virá: quero pensar no que é. Agora. No que está sendo. Pensar no que ainda não veio é fugir, buscar apoio em coisas externas a mim, de cuja consistência não posso duvidar porque não a conheço. Pensar no que está sendo, ou antes, não, não pensar, mas enfrentar e penetrar no que está sendo é coragem. Pensar é ainda fuga: aprender subjetivamente a realidade de maneira a não assustar. Entrar nela significa viver.
Jul 25, '05 7:16 PM
Jul 25, '05 7:16 PM
Adeus ao Pablo
Eu não sei bem o que dizer,
Tudo ainda continua confuso,
Tem aquelas horas em que parece que esqueço,
Como se ele ainda estivesse aqui,
Só viajando,
Mas que fosse voltar a qualquer hora
E a gente se esbarrasse
E de repente estaríamos conversando sobre novos projetos
Ou dando sugestões de bons documentários um pro outro,
Sei que agora está sendo mais difícil,
Que, aos poucos,
A imagem dele vai sumir,
O cheiro dele vai desaparecer,
O som da voz dele se apagará dos meus ouvidos,
Mas agora...
Agora dói tanto,
Eu sei que vai passar,
Que daqui a um ano doerá menos
E daqui a dois anos menos ainda,
Depois a lembrança dele ficará cada vez mais remota
E quem sabe um dia não mais existirá,...
Nesse dia,
Outros, talvez, também já tenham ido embora,
E, se eu não for antes,
Começarei a fazer a lista daqueles que já partiram,
Mas isso é para depois,
Agora só existe essa saudade absurda
Que vai tomando conta
E a certeza de que nunca mais irei vê-lo,
Não haverá mais brincadeiras
Nem discussões na mesa de edição,
Nós não iremos mais para Pancas
E nem faremos matérias sobre esportes radicais,
A partir de agora
Não haverá mais motivo para fazer hora dentro do estúdio
E nem ir almoçar naqueles restaurantes do tipo “pé sujo”,
Agora ele não verá os novos equipamentos
E nós não mais faremos o nosso curta com o texto dele,
Agora nós não nos formaremos juntos
E nem encheremos a cara depois de receber o canudo,
Agora não teremos mais planos de novos projetos,
Não iremos mais ao cinema,
Não mais conversaremos no ponto de ônibus
E nem comemoraremos juntos o nosso aniversário,
A partir de agora
Ele não mais comentará sobre as meninas que passam pela ilha,
Não me ajudará quando eu estiver sem idéia para uma matéria
E nem me salvará quando eu tiver feito uma edição ruim,
Agora ele não mais reclamará do meu cigarro,
Não me olhará meio de lado
Quando eu falar sobre algum menino que eu esteja interessada
E nem ficará mais preocupado com os meus desmaios,
Não me dará bronca porque eu não almocei
E nem vai falar das novas fotos que ele tirou em Ilha Grande,
Agora eu tive de tirar o celular dele da memória do meu,
E não mais esperarei que ele me telefone,
A partir de agora
Não perguntarei a ele em que disciplinas estamos juntos
E nem sei mais se vou conseguir trabalhar no estúdio sem ele,
Agora eu não mais terei meu livro de fotos sobre o Rio
E nem as fitas que estavam com ele,
Agora eu não terei mais a alegria de saber que vou vê-lo todos os dias,
Não falarei as coisas que não foram ditas,
Não deixarei para conversar depois,
Agora não poderei mais dizer que o amava.
A partir de agora
Eu tenho menos um amigo,
... E se gasta tanto tempo para fazer um,...
Agora eu penso nele todos os dias,
Mas um dia,
Um dia
Ele terá sido apenas mais uma pessoa
Que passou pela minha vida
E me ensinou a ser uma pessoa melhor.
Tudo ainda continua confuso,
Tem aquelas horas em que parece que esqueço,
Como se ele ainda estivesse aqui,
Só viajando,
Mas que fosse voltar a qualquer hora
E a gente se esbarrasse
E de repente estaríamos conversando sobre novos projetos
Ou dando sugestões de bons documentários um pro outro,
Sei que agora está sendo mais difícil,
Que, aos poucos,
A imagem dele vai sumir,
O cheiro dele vai desaparecer,
O som da voz dele se apagará dos meus ouvidos,
Mas agora...
Agora dói tanto,
Eu sei que vai passar,
Que daqui a um ano doerá menos
E daqui a dois anos menos ainda,
Depois a lembrança dele ficará cada vez mais remota
E quem sabe um dia não mais existirá,...
Nesse dia,
Outros, talvez, também já tenham ido embora,
E, se eu não for antes,
Começarei a fazer a lista daqueles que já partiram,
Mas isso é para depois,
Agora só existe essa saudade absurda
Que vai tomando conta
E a certeza de que nunca mais irei vê-lo,
Não haverá mais brincadeiras
Nem discussões na mesa de edição,
Nós não iremos mais para Pancas
E nem faremos matérias sobre esportes radicais,
A partir de agora
Não haverá mais motivo para fazer hora dentro do estúdio
E nem ir almoçar naqueles restaurantes do tipo “pé sujo”,
Agora ele não verá os novos equipamentos
E nós não mais faremos o nosso curta com o texto dele,
Agora nós não nos formaremos juntos
E nem encheremos a cara depois de receber o canudo,
Agora não teremos mais planos de novos projetos,
Não iremos mais ao cinema,
Não mais conversaremos no ponto de ônibus
E nem comemoraremos juntos o nosso aniversário,
A partir de agora
Ele não mais comentará sobre as meninas que passam pela ilha,
Não me ajudará quando eu estiver sem idéia para uma matéria
E nem me salvará quando eu tiver feito uma edição ruim,
Agora ele não mais reclamará do meu cigarro,
Não me olhará meio de lado
Quando eu falar sobre algum menino que eu esteja interessada
E nem ficará mais preocupado com os meus desmaios,
Não me dará bronca porque eu não almocei
E nem vai falar das novas fotos que ele tirou em Ilha Grande,
Agora eu tive de tirar o celular dele da memória do meu,
E não mais esperarei que ele me telefone,
A partir de agora
Não perguntarei a ele em que disciplinas estamos juntos
E nem sei mais se vou conseguir trabalhar no estúdio sem ele,
Agora eu não mais terei meu livro de fotos sobre o Rio
E nem as fitas que estavam com ele,
Agora eu não terei mais a alegria de saber que vou vê-lo todos os dias,
Não falarei as coisas que não foram ditas,
Não deixarei para conversar depois,
Agora não poderei mais dizer que o amava.
A partir de agora
Eu tenho menos um amigo,
... E se gasta tanto tempo para fazer um,...
Agora eu penso nele todos os dias,
Mas um dia,
Um dia
Ele terá sido apenas mais uma pessoa
Que passou pela minha vida
E me ensinou a ser uma pessoa melhor.
***
Devo ter escrito entre agosto e setembro de 2001.
Aug 6, '05 8:54 PM
Pensar em você - Chico César
é só pensar em você que muda o dia
minha alegria dá pra ver
não dá pra entender
nem quero pensar se é certo querer
o que vou lhe dizer:
um beijo seu e eu
vou só pensar em você
se a chuva cai e o sol não sai
penso em você
vontade de viver mais
e em paz com o mundo
e comigo
(e consigo)Pensar
minha alegria dá pra ver
não dá pra entender
nem quero pensar se é certo querer
o que vou lhe dizer:
um beijo seu e eu
vou só pensar em você
se a chuva cai e o sol não sai
penso em você
vontade de viver mais
e em paz com o mundo
e comigo
(e consigo)Pensar
O motivo - um pequeno trecho
Um trecho de um conto que escrevi, altamente influenciada por Caio Fernando Abreu.
E eu disse que precisava saber o que o fez voltar e disseste que precisavas dizer-me o que o fez ir. E parecíamos ter medo da descoberta. Estávamos tão próximos do fim. Tu choravas como uma criança que deixou o sorvete cair no chão e, de repente, via-me forte como nunca achei que pudesse ser. Disse a ti que tinhas me ferido, que mulher, nem qualquer ser humano, precisava passar por aquilo. E tu ficaste calado. Olhando-me assustado. E viraste de costas como se fosse fugir. E eu tinha certeza de que tu irias. Mas resolveste ficar. Disseste-me então que nunca deveria ter partido, que viveu os piores anos de tua vida longe de mim. Mas neguei-me a cair, mais uma vez. Eu só queria que tu me falasses o motivo e mais nada. Depois, que fosse embora para sempre. E vieste com uma história comprida, de conhecimento de novos horizontes, medo de ser aquilo mesmo, de que realmente eu fosse a mulher da tua vida e outros blá blá blás. E enquanto tu me dizias isso, uma raiva imensa foi me corroendo por dentro. E eu passei a pensar o quanto era babaca por tê-lo esperado. Sim, não havia como negar, durante esses cinco anos só o que fiz foi esperá-lo, às vezes com amor, outras com ódio, mas na maioria, só por curiosidade mesmo. Mas ao mesmo tempo, em que te ouvia falar, toquei-me o quanto ainda o amava e comecei a ter vergonha de mim mesma por isso. Comecei a chorar e tu achaste que era alguma coisa que havias dito. Não, não tinha nada que pudesse falar que me faria chorar tanto o quanto já estava chorando. Pediste-me perdão novamente, enquanto eu vertia lágrimas por todo o meu ser. Era tanta coisa que precisava ser dita e nós não tínhamos a menor idéia de como deveríamos começar. Disseste-me coisas belas e tristes, mas em nenhum momento o que eu queria que tu me falasses. Sentei, enfim, na mesma cadeira em que estava quando partiste. Foi nesse exato momento em que te calaste. Finalmente percebeste o que acontecia. Disseste-me finalmente que era um covarde, que essa era a resposta por tudo o que havia feito. E, neste momento, eu já não tinha mais nenhuma força e tu me abraçaste e começamos a nos beijar enlouquecidamente, como se aquilo fosse a única saída existente para nós. E talvez fosse. E me levaste para a cama e transamos como a última vez para um condenado à morte. E fui repetidas vezes ao céu e te olhava como um sonho distante, desses além do fim do mundo. Depois do choro, o riso. Sentia-me tão leve,... Como uma pluma indo em direção ao sol se pondo. Adormecemos um no braço do outro, como nos tempos de antes. E acho que foi, neste momento, que algo mudou dentro de mim... Só o que te peço é que não venhas atrás de mim outra vez. Quando nós fechamos um ciclo de nossa vida é para sempre. Sem volta. Não sei se te entendo, nem sei porque voltaste agora, cada um sabe de si, a vida não é assim?
Aug 6, '05 9:40
Próspero em A Tempestade - Shakespeare
Oh, elfos das colinas, rios, vales,
que sem jamais deixar marcas na areia,
a fuga de Netuno perseguis
e cavalgais a glória do refluxo!
Oh, vós, semidemônios que falhais
E vós por cuja arte
escureci o sol do meio-dia,
que sem jamais deixar marcas na areia,
a fuga de Netuno perseguis
e cavalgais a glória do refluxo!
Oh, vós, semidemônios que falhais
E vós por cuja arte
escureci o sol do meio-dia,
o tumulto dos ventos conclamei,
Entre o verde do mar e o azul do céu
criei a Guerra, e ainda incendiei
o trovão que alucina, estraçalhando
de Júpiter o tronco do carvalho
com o próprio raio - e o vasto promontório
sacudi; e das bases arranquei
o pinho e o cedro; sob o meu comando
as tumbas libertaram seus defuntos,
Graças à minha arte.
Mas tal mágica aqui renego;
Os meus encantos se acabaram,
E as minhas forças, que restaram,
E as minhas forças, que restaram,
são fracas, e eu sei verdadeiro
que ou cá me fazem prisioneiro
ou podem me mandar pro lar.
Não me obriguem a ficar
nesta ilha que é só deserto.
Quebrem os meus votos vãos
com a ajuda de suas mãos;
Não tenho mais arte, espírito ou engenho:
Meu fim será desesperação
Se não tiver sua oração,
Que pela força com que assalta
Obtém mercê pra toda falta.
ou podem me mandar pro lar.
Não me obriguem a ficar
nesta ilha que é só deserto.
Quebrem os meus votos vãos
com a ajuda de suas mãos;
Não tenho mais arte, espírito ou engenho:
Meu fim será desesperação
Se não tiver sua oração,
Que pela força com que assalta
Obtém mercê pra toda falta.
Quem peca e quer perdão na certa,
Por indulgência me liberta.
Por indulgência me liberta.
Aug 8, '05 10:34 PM
Harriet - Caio Fernando Abreu
Este trecho faz parte do conto Harriet, do livro Os dragões não conhecem o paraíso. Sim, ele é todo escrito em letra minúscula e sem pontuação.
"Sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor pois se eu me comovia vendo você pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo meu deus como você me doía vezenquando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando olhando e pensando meu deus ah meus como você me dói vezenquando"
"Sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor pois se eu me comovia vendo você pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo meu deus como você me doía vezenquando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando olhando e pensando meu deus ah meus como você me dói vezenquando"
Aug 23, '05 2:15 PM
Aqui ou em Bangladesh
Por que sempre que nos vemos
me perguntas quando vou embora
Quando tu já me expulsaste?
Qual a diferença pra ti se estou aqui ou em Bangladesh,
em Amsterdã ou em Barbados?
Se não estamos mais juntos,
o que modifica em ti
a minha ida
ou a minha volta?
Me deixa,... que hoje eu tô de bobeira,...
me perguntas quando vou embora
Quando tu já me expulsaste?
Qual a diferença pra ti se estou aqui ou em Bangladesh,
em Amsterdã ou em Barbados?
Se não estamos mais juntos,
o que modifica em ti
a minha ida
ou a minha volta?
Me deixa,... que hoje eu tô de bobeira,...
Aug 23, '05 3:58 PM
Pensamentos desconexos no metrô
Um lapso, um passo
Um acesso rápido
Navegado por cálculos
Raios de luz disformes
Inexato expresso
Exíguo lasso
Erro
Não entra
Lento
Rápido.
Não chega não anda não acontece.
Falta de ar de saco de paciência.
Embrulhos grandes
Sacolas enormes
Cansaço
Dói, não dói.
Calça curta, sapato alto.
É a moda.
Bregas displicentes
Cansados disformes
Silenciosos.
Sapatos velhos, calcanhares ressecados.
Ombros pra frente
Olhar perdido
Homem bonito parado no canto
O que pensa?
Penso constantemente na morte.
Ela está à espreita
Quando virá?
Dará tempo ou ficarei a dever?
Erro crasso num singelo lapso.
Conversas desinteressantes
Pra passar o tempo
Remexer a bolsa
Porque não há nada mais a fazer
Vaga um lugar.
Ele cede
Ela senta e não agradece.
Elas mexem no cabelo.
Eles nem olham.
Estão cansados.
Não querem mais passar o tempo.
Aug 23, '05 4:31 PM
Como Godot
Eu faço as minhas coisas e você faz as suas.
Não estou aqui pra satisfazer as suas expectativas.
E nem você está aqui pra viver de acordo com as minhas.
Você é você e eu sou eu.
Por acaso nos encontramos,
Se desse certo seria maravilhoso.
Mas como não foi o caso,
Não há nada a fazer.
Ele quer saber se dói?... É claro que dói.
Não estou aqui pra satisfazer as suas expectativas.
E nem você está aqui pra viver de acordo com as minhas.
Você é você e eu sou eu.
Por acaso nos encontramos,
Se desse certo seria maravilhoso.
Mas como não foi o caso,
Não há nada a fazer.
Ele quer saber se dói?... É claro que dói.
Aug 23, '05 4:43 PM
Morre lentamente - Martha Medeiros
Morre lentamente, quem não troca idéias, não troca discursos. Evita as próprias contradições;
Morre lentamente quem, vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e a mesmas compras no supermercado.
Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova e não dá papo para quem não conhece;
Morre lentamente quem faz da tv o seu guru e seu parceiro diário (como 14 polegadas ocupar tanto espaço em uma vida?);
Morre lentamente quem evita a paixão, quem prefere o “preto no branco” e “os pingos nos is” a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluções, coração aos tropeços e sentimentos;
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos;
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo;
Morre lentamente quem destrói o seu amor próprio, quem não se deixa ajudar;
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante,
Desistindo de um projeto sobre um assunto que desconhece e não responde quando lhe indagam o que sabe.
Por isso é preciso viver cada minuto, cada segundo intensamente, sem medo de amar e de ser feliz.
Aug 29, '05 2:08
(Não sei o título) Texto de Fauzi Arap
Eu vou te contar que você não me conhece e eu tenho que gritar isso porque você está surdo e não me ouve. A sedução me escraviza a você. Ao fim de tudo você permanece comigo, mas preso ao que eu criei e não a mim. E quanto mais falo sobre a verdade inteira, um abismo maior nos separa. Você não tem um nome, eu tenho. Você é um rosto na multidão e eu sou o centro das atenções. Mas a mentira da aparência do que eu sou e a mentira da aparência do que você é. Porque eu, eu não sou meu nome. E você não é ninguém. Entre eu e você existe a notícia que nos separa. Eu quero que você me veja a mim. Eu me dispo da notícia. E a minha nudez, parada, te denuncia e te espelha. Eu me delato, tu me relatas. Eu nos acuso e confesso por nós. Assim, me livro das palavras com as quais você me veste.
Texto de Fauzi Arap, recitado por Maria Bethânia.
Aug 29, '05 2:00 PM
O que eu quero
Queria telefonar-te agora
Mas não sei o que dizer
Um turbilhão passa por mim
E eu não sei o que fazer.
Furar-me com um estilete
E deixar a loucura fluir.
Evaporando e entorpecendo
O torpor que está por vir.
Queria ver-te agora
Mas sei que vou ceder
Vou querer te afagar em meus braços
Ou apenas contemplar tua beleza
E me deparar com teu olhar torquemadesco
Estraçalhando-me
Por um dia ter se rendido a mim.
Queria amar-te agora
E perder-me por entre a razão da emoção
E a loucura da razão.
Fazer-me cúmplice da tua vida
Ouvir teus desabafos
E forjar tuas fugas.
Queria esquecer-te agora.
Não mais lembrar o que me fazia te olhar,
Nem o que sentia ao te tocar.
Queria voar para longe,
Para outro campo,
Não mais de um verde profundo,
Mas para outro céu
Quem sabe azul celeste
Para atingir a perfeição,
E, finalmente, viver sem sofreguidão.
Mas não sei o que dizer
Um turbilhão passa por mim
E eu não sei o que fazer.
Furar-me com um estilete
E deixar a loucura fluir.
Evaporando e entorpecendo
O torpor que está por vir.
Queria ver-te agora
Mas sei que vou ceder
Vou querer te afagar em meus braços
Ou apenas contemplar tua beleza
E me deparar com teu olhar torquemadesco
Estraçalhando-me
Por um dia ter se rendido a mim.
Queria amar-te agora
E perder-me por entre a razão da emoção
E a loucura da razão.
Fazer-me cúmplice da tua vida
Ouvir teus desabafos
E forjar tuas fugas.
Queria esquecer-te agora.
Não mais lembrar o que me fazia te olhar,
Nem o que sentia ao te tocar.
Queria voar para longe,
Para outro campo,
Não mais de um verde profundo,
Mas para outro céu
Quem sabe azul celeste
Para atingir a perfeição,
E, finalmente, viver sem sofreguidão.
Aug 26, '05 3:10 PM
Ensaiar ou não, eis a questão
Há alguns dias começou um probleminha meio chato nos meus ensaios. A questão é: pessoas que querem ensaiar mais e pessoas que querem ensaiar menos. Desde que eu faço teatro, e lá se vão uns 15 anos, me ensinaram que ENSAIAR mais nunca é demais. Sempre é preciso se aprimorar. Foi opção de vida mesmo. Troco qualquer coisa por um bom ensaio: namoros, saídas, viagens,... Já salvei amiga durante o ensaio, já marquei comemoração de aniversário às duas da manhã, já fui em sessão de cinema à meia-noite, porque era a única hora que podia estar com meu namorado, já deixei de passar o Natal com a minha família porque iria ensaiar entre o Natal e o Reveillon, já esqueci da existência do Carnaval, já perdi aniversários de amigos, almoços de família, cachoeira com namorado,... Tudo isso é absolutamente normal na minha vida. E não sei como seria se não existisse.
Pela primeira vez eu ouvi reclamações de que estávamos ensaiando demais. (Nunca ultrapassamos cinco horas diárias.) Realmente fiquei preocupada com essa geração que está começando agora a fazer teatro. É assustador que não se queira ensaiar e conseguir fazer um bom trabalho. Será que essa nova geração sabe quantas horas um esportista treina por dia? E o que diferencia um ator de um esportista? Não está cada um querendo quebrar suas próprias barreiras? Ultrapassar seus obstáculos? Sendo, preferencialmente, o teatro visto como esporte coletivo, jamais como esporte individual?
Claro que nesse meio todo, ainda tem aqueles que querem ensaiar, que ensaiam fora do horário, que te surpreendem a cada dia. Esses estão sempre buscando, procurando,... fazendo, enfim, o que todo ator, bom ator, deveria fazer. Por esses atores eu vejo que vale a pena continuar ensaiando essa peça, quando a única vontade é largar tudo e sumir, a ter de conviver com pessoas que podiam estar ali, na praia ou em casa dormindo, que não faria a menor diferença.
Jun 8, '05 12:10 PM
Meus Amigos Secretos - Garth Henrichs
Ontem eu reencontrei amigos de infância e/ou adolescência. Alguns eu não via já há uns quinze anos. Conseguimos nos reencontrar via Orkut. E ontem, finalmente, nos encontramos ao vivo e a cores. Daí eu lembrei que há muito tempo atrás havia recebido um e-mail com um texto sobre amigos, e, mais do que nunca concordo com ele, então resolvi postá-lo. Quem me enviou o e-mail foi, possivelmente, o homem que eu mais fui apaixonada até hoje, mas isso é outra história. Quem sabe outro dia? Agora, um brinde aos meus queridíssimos amigos. Aos que sabem que são meus amigos, aos que não sabem, e aqueles que há muito não vejo, mas que estão em meu coração.
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade, e eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências... Há alguns deles que não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar! Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida. Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo. Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer... Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
"A gente não faz amigos, reconhece-os."
May 28, '05 11:04
Nada de novo
(Escrevi esse texto em novembro de 2006. Ele é tão bonitinho, que resolvi trazê-lo pra cá também.)
Ia começar a escrever um e-mail para um amigo, aí eu escrevi: "Oi, tudo bem e aí? e...", parei de escrever na hora porque normalmente se escreve as últimas novidades, o que aconteceu de novo nos últimos quinze, vinte dias, aí que simplesmente não tive como continuar a escrever porque não tenho novidade alguma. Posso falar de coisas antigas, postar fotos antigas, falar de amigos que tem novidades... mas de mim? Tá, eu engordei um pouco nesses últimos dias, eu diminuí o ritmo na natação, eu não fiz nada de significativo nos ensaios e continuo lendo vários livros ao mesmo tempo, vi vários filmes e descobri músicas maneiríssimas. Mas mesmo assim isso não é bem a "novidade" que as pessoas esperam.
Podia ser algo como: "Conheci o homem da minha vida e vou me casar semana que vem", ou "Vou pra Moscou, passagem só de ida", "Mudei de profissão, vou para a África nos próximos dias, trabalhando como enfermeira", "Estou morando no meio do mato", este também poderia ser "Finalmente tomei coragem e me mudei pra São Paulo... ou pra Bahia... ou pra Buenos Aires". Antes que você me pergunte, eu não tenho a menor idéia porque gostaria de morar nesses três lugares, mas quem sabe um dia? Também tem "Consegui um trabalho maneiríssimo, com um salário ótimo", "Estou com meu abdômem tanquinho sem cirurgia plástica" e várias e várias outras.
Aí também tem as novidades horrendas como "Estou com uma doença terrível" ou então: "Lembra do fulano? Morreu. (Tá, eu sei, tem maneiras melhores de dar esse tipo de notícia.) Que mais? Meu namorado me largou, fiquei desempregada, fui assaltada, um avião caiu no meu prédio (esse é pesado!) e novidades surreais também como "Fui abduzido por alieníginas que liam todos os meus pensamentos" e blá blá blá.
Considerando essas possibilidades até fico tranquila em dizer que não tenho novidades, que simplesmente a vida está seguindo seu fluxo sem tropeços. Mas que também não dá pra escrever pro cara lá em Los Angeles e dizer "Aqui no Brasil eu estou usando casaco em pleno mês de novembro"... Você já pecebeu que nós sempre falamos de tempo quando não tem nada de significativo pra ser dito?
Ia começar a escrever um e-mail para um amigo, aí eu escrevi: "Oi, tudo bem e aí? e...", parei de escrever na hora porque normalmente se escreve as últimas novidades, o que aconteceu de novo nos últimos quinze, vinte dias, aí que simplesmente não tive como continuar a escrever porque não tenho novidade alguma. Posso falar de coisas antigas, postar fotos antigas, falar de amigos que tem novidades... mas de mim? Tá, eu engordei um pouco nesses últimos dias, eu diminuí o ritmo na natação, eu não fiz nada de significativo nos ensaios e continuo lendo vários livros ao mesmo tempo, vi vários filmes e descobri músicas maneiríssimas. Mas mesmo assim isso não é bem a "novidade" que as pessoas esperam.
Podia ser algo como: "Conheci o homem da minha vida e vou me casar semana que vem", ou "Vou pra Moscou, passagem só de ida", "Mudei de profissão, vou para a África nos próximos dias, trabalhando como enfermeira", "Estou morando no meio do mato", este também poderia ser "Finalmente tomei coragem e me mudei pra São Paulo... ou pra Bahia... ou pra Buenos Aires". Antes que você me pergunte, eu não tenho a menor idéia porque gostaria de morar nesses três lugares, mas quem sabe um dia? Também tem "Consegui um trabalho maneiríssimo, com um salário ótimo", "Estou com meu abdômem tanquinho sem cirurgia plástica" e várias e várias outras.
Aí também tem as novidades horrendas como "Estou com uma doença terrível" ou então: "Lembra do fulano? Morreu. (Tá, eu sei, tem maneiras melhores de dar esse tipo de notícia.) Que mais? Meu namorado me largou, fiquei desempregada, fui assaltada, um avião caiu no meu prédio (esse é pesado!) e novidades surreais também como "Fui abduzido por alieníginas que liam todos os meus pensamentos" e blá blá blá.
Considerando essas possibilidades até fico tranquila em dizer que não tenho novidades, que simplesmente a vida está seguindo seu fluxo sem tropeços. Mas que também não dá pra escrever pro cara lá em Los Angeles e dizer "Aqui no Brasil eu estou usando casaco em pleno mês de novembro"... Você já pecebeu que nós sempre falamos de tempo quando não tem nada de significativo pra ser dito?
Apr 17, '08 5:52 PM
Jane Austen
Neste tempo de chuva aproveitei uma fase Jane Austen. Já falei da minha paixão por Orgulho e Preconceito, né? Bom, li Persuasão, numa edição bilingue nova que, em alguns aspectos, deixa muito a desejar, mas como este livro andava em falta em Livrarias & Sebos, realmente fiquei muito feliz ao fazer meu passeio semanal pela livraria e me deparar com ele. Ok, ok, além do problema da tradução, escolheram uma fonte que dificulta um pouco a leitura... além disso a capa não é muito "Jane Austen" (mas é melhor do que meu livro de Orgulho e Preconceito que colocaram uma capa à la começo do Século XVIII!!! Com direito a vestido com corpete até a cintura - ????? -). Mas salvo todas estas exceções, foi uma leitura muito prazerosa. Logo depois assisti a Becoming Jane, com a mesma atriz que faz O diabo veste Prada... ai! esqueci o nome dela... éeee... Ah! Anne Hathaway. O filme é lindinho. É uma pseudo-biografia da Jane Austen. Pseudo porque pouco se sabe da vida dela, só que ela e a irmã nunca se casaram. Tem um quê de Shakespeare Apaixonado e Moça do Brinco de Pérola, sabe? Inspirações de como seriam esses artistas. Vale muito a pena ver. Aí continuando minha fase Austen, assisti The Jane Austen Book Club. Ainda não cheguei a conclusão sobre este filme. Acho que é chato, drama demais, sei lá. Embora tenha algumas coisas interessantes. A idéia do filme é muito bacana: As discussões sobre os livros se misturam à vida daquelas pessoas conforme o tempo passa. Sendo que aquelas pessoas retratadas no filme são...chatas! É exatamente esta a palavra. Daí os personagens de Jane Austen saem na frente, embora sempre tenha um ou outro personagem um tanto intragável em seus romances, nunca são os protagonistas. E é aquilo, personagens chatos = Filme chato. Enfim, esta foi minha fase Jane Austen. Ainda falta ler os outros livros dela, mas por agora, estou bem.
Feb 11, '08 8:08 AM
Vontade
Vontade de gritar,
chorar, espernear.
Ligar e pedir explicação,
Bater muito forte,
Se esgoelar.
Vontade de se jogar no mar
e ver o mundo girar.
Vontade de fazer tudo parar
e de nenhum relógio mais funcionar.
Vontade de deixar o barco correr
e ver onde vai parar.
Ficar quietinha, a mercê
e esperar.
Vontade... apenas isso.
Dec 16, '07 10:57 AM
chorar, espernear.
Ligar e pedir explicação,
Bater muito forte,
Se esgoelar.
Vontade de se jogar no mar
e ver o mundo girar.
Vontade de fazer tudo parar
e de nenhum relógio mais funcionar.
Vontade de deixar o barco correr
e ver onde vai parar.
Ficar quietinha, a mercê
e esperar.
Vontade... apenas isso.
Irritada
Ando tão irritada.
Tão sem grana.
Tão sem paciência.
Tão sem tudo.
Irritada da poeira, do barulho.
Irritada dos comentários babacas.
Irritada de mentiras,
do cotidiano,
da displicência dos outros.
Irritada da manchete dos jornais,
da banalidada humana.
Irritada.
Apenas isso.
Tão sem grana.
Tão sem paciência.
Tão sem tudo.
Irritada da poeira, do barulho.
Irritada dos comentários babacas.
Irritada de mentiras,
do cotidiano,
da displicência dos outros.
Irritada da manchete dos jornais,
da banalidada humana.
Irritada.
Apenas isso.
Sep 19, '07 10:46
Porque não uso tênis... ou dois pés esfolados
Depois de passar o fim de semana todo trabalhando de tênis (porque era obrigatório, senão estaria linda no meu saltão), meus dois dedões amanheceram roxos na terça feira. E nada podia tocar neles, nem lençol. Mas o pé esquerdo estava pior porque alguns movimentos na aula de dança eu também não conseguia fazer.
Diagnóstico médico: Sinovite. (O ortopedista pra mim: "Olha é raro, mas pode acontecer", e eu: "Se é raro, com certeza é o que tenho.")
E imaginar que morri numa grana ferrada pra comprar esse tênis, porque é ótimo pra corrida e isso e aquilo. Sabe quantos sapatos eu teria comprado?
Agora, com dois dedos roxos, só no chinelão.
Sep 3, '07 10:28 AM
Diagnóstico médico: Sinovite. (O ortopedista pra mim: "Olha é raro, mas pode acontecer", e eu: "Se é raro, com certeza é o que tenho.")
E imaginar que morri numa grana ferrada pra comprar esse tênis, porque é ótimo pra corrida e isso e aquilo. Sabe quantos sapatos eu teria comprado?
Agora, com dois dedos roxos, só no chinelão.
*****
No original, havia algumas fotos dos meus pés enfaixados.
Dias confusos (ou Muita coisa muita coisa)
Ê tempo confuso! Há dias venho aqui olho pra tela e nada sai. Primeiro a notícia de uma morte, depois aniversário da minha tia que já partiu, minha vózinha querida chegou no Rio, depois ela e minha mãe viajaram e hoje é aniversário da minha mãe. Muita coisa muita coisa. Pra completar estourei meu pé e ainda devido a todos os remédios que tomei, meu estômago parecia estourar outro dia. Muita coisa muita coisa. Queria poder gritar, me jogar no mar, qualquer coisa. Vê se o turbilhão passa. Sem vontade de querer trabalhar, pensando em me levar pra Arraial ou me esconder no meu quarto e lá ficar. Muita coisa muita coisa. Eu achava que o grupo já tava formado, e agora quero me livrar de três pessoas. Duas são certas, a outra vou ter que aguentar. Mas agora penso em sair de lá. Muita coisa rondando. Matéria na revista. Arritmia. A tosse que não passa nunca e a vontade de fumar. Estar sozinha num domingo à noite sem ninguém telefonar. Muita coisa muita coisa. A morte sempre nos faz pensar. E também sempre dá vontade de fugir. Tempo estranho esse. Um turbilhão passa pelo pensamento e nada fica, angústia no ar. Não querer fazer nada e querer fazer muito. Na verdade, vontade de mudar tudo. Impossível falar com alguém agora. Você consegue acompanhar meu pensamento? Até o blog que me fazia tanto rir fechou. Vontade de ler Caio, deitada na rede, no apartamento de Copa, tomando uma cerveja e fumando um cigarro, sabendo que a qualquer momento a Fê entraria por aquela porta e iríamos para algum lugar dançar, beber, se divertir. Vontade de ligar pro Mike. Vontade de ver a Tê. Entre passado e mortos, novos caminhos surgem. Caminhos de saudade, solidão, confusão. É isso agora. Vontade de brincar de amarelinha, de fazer maria-chiquinha. Vontade de ficar só. De esquecer o passado ou de uma vez por todas entender porque a matéria da revista dói tanto. Vontade de descobrir porque a Vogue brasileira é tão ruim. Muita coisa muita coisa. Vontade de tudo e de nada. De me sentir um tanto looser. Vontade de escrever e não saber direito o quê. E se perder. E tomar outro rumo. Muita coisa muita coisa.
Se o telefone tocar, diga que não estou
Não aguento isso! São 11h da manhã e meu telefone já tocou não sei quantas vezes. Mas em nenhuma das vezes foi um amigo ou alguém que não falo há tempos. Todas as vezes foi para oferecer coisas, para que eu "doe", uma nova proposta do Unibanco, da NET Digital, da Editora Globo... E isso é sempre, o dia inteiro. Já teve dia que eu recebi umas oito ligações do Jornal do Brasil! E tudo dizendo: "Não, não quero"; "Não, obrigada". Será que eles acham que se torrarem a minha paciência eu vou assinar aquele jornal que não tem espaçamento entre uma frase e outra e é uma droga pra ler?
Hoje em dia, quando a pessoa se identifica, eu já desligo na cara. É pois é, sou o terror dos operadores de telemarketing. Aliás, eu odeio operador de telemarketing. Eu sei, eles precisam do trabalho e blá blá blá. Eu também preciso do meu. E no caso eu preciso de silêncio para efetuar o meu e não de um telefone que vive tocando para me oferecer coisas. Ai, esse mundo capitalista desgraçado! Qual era mesmo aquela parte que telefone só se usa para emergência? Outro dia, eu fui assaltada e levaram meu celular. Daí cheguei em casa e fui fazer as ligações pra cancelá-lo, e ligar pra minha mãe, pro trabalho e tudo o mais. Nisso começou a tocar o telefone, nem sei do que era, era uma paulista. Paulista na linha você já sabe que é telemarketing (desculpem os paulistas, mas é o que tá acontecendo). E o diabo da mulher ficava ligando e eu esperando ligação importante! Infelizmente os telefones ainda não dá pra ver a figura que está te ligando, porque aquela FDP eu juro que dava porrada. Ia pra São Paulo, ou sei lá onde fica a central.
Tem revista que eu parei de assinar só porque a Editora Globo já me encheu a paciência. E a VIVO? Nada pior do que a VIVO, porque ligam pro meu celular. Já cansei de ser acordada pela bosta da VIVO. Eu durmo às 4hs da manhã, então às 8 da manhã eu estou DORMINDO, isso é fato. Agora estou tirando o som do celular quando vou dormir, o que não gosto porque urgência de amigos acontecem. E tudo isso pra oferecer o plano X, Y ou Z. EU NÃO QUERO QUE ME LIGUEM É APENAS ISSO. Já reclamei com a VIVO e a Ed Globo. E acha que adiantou alguma coisa? Ah sim, quando sou eu quem ligo, eles me deixaram horas aguardando... ou então tendo que teclar aquelas inúmeras teclas que não te levam a lugar algum.
Que saudades da época que meu telefone quando tocava era um amigo do outro lado da linha...
Aug 16, '07 10:32 AM
Uma tosse e uma dor de estômago - um desabafo de alguém sem cigarro & cafeína
Depois de três dias tossindo lá fui eu pro médico. EMERGÊNCIA. Eu preferia um otorrino, mas meu pai me carregou pra um hospital geral mesmo para que me fizessem raio-X do pulmão... vai que era Pneumonia? É... era uma explicação. Mas enfim, em uma hora e pouco de espera chegaram várias ambulâncias e eu comecei a me sentir ridícula de ter ido ao médico por causa de uma tosse. Tudo bem que era uma tosse bizarra e contínua, mas mesmo assim continuava sendo apenas uma tosse. O raio-X do pulmão tava limpo, queria até ver se ele já tava ficando cinza com a quantidade de cigarro que ultimamente estou fumando, mas nem deu pra reparar, porque logo o médico me mostrou o raio-X da minha cabeça, aí eu vi que o negócio não tava legal pro meu lado... de qualquer forma, até aí tava tranquilo, e isso durou até a hora dele preencher a receita. Ele não parava! Será que ele era sócio de alguma farmácia? E foi o 1o, o 2o, o 3o, o 4o, o 5o... aí não teve jeito me virei pra ele e disse: "Então, o senhor se incomodaria em parar?" Ah! Fala sério! 5 remédios por causa de uma tosse bizarra e catarro na minha cabeça? Pô! Passa um banho de mar matutino, um ida à cachoeira, alguma coisa assim!
Mas ok, se era pra tomar remédio que fosse, mas que pelo menos a tosse parasse, porque já tava dando no saco e dormir uma noite inteira está me fazendo muita falta. O primeiro da lista custava R$ 54,00! E era apenas o 1o! Eu só pensava na quantidade de chopps que deixarão de ser tomadas este mês... e pelo visto no próximo também! Beleza, descobri os nomes dos genéricos e fui em frente. Quer dizer, na verdade fui no acupunturista, saber que tinha que tomar tanto remédio me deixou estressada. :) Ok, ok. Exagero. Fui tratar da minha coluna que é ferrada há séculos e ninguém consegue dar jeito nela.
Mas voltando à questão dos remédios... Tomei todos e oba! oba!, fui trabalhar que é o que resta a uma reles mortal... comecei a sentir um dor muita estranha na região do abdômen... também tossindo tanto, pudera! - mas a dor foi piorando, piorando,... e aí que eu já não tinha posição, e tudo foi ficando muito ruim e BLÉEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEMMMM! Tocou o sino! Tá, havia o fato da tosse sim, mas tinha outro de quem se tratou do estômago ano passado: A VOLTA DA GASTRITE!!! Aaaaaaaaaaaaaiiiii! E eu que nem sentia dor e por isso demorei tanto a procurar médico, veio toda dor agora. Daí que realmente não tinha condições de voltar ao hospital, foi uma hora de espera no outro dia, agora eu não conseguiria esperar um minuto e NÃO, ISSO NÃO É EXAGERO! O jeito foi a minha cama mesmo e voltar a tomar os remédios pro meu pobre estômago em crise. Coitado! Fui ler tudo - de novo - sobre gastrite e adivinha o que aparecia logo no começo? Que costumava surgir com o diabo do remédio que o médico me passou! (: Claro que, pra quem não tem nenhum problema dessa ordem, ele não vai ter gastrite por causa disso, mas quem acabou de se tratar e nem fez os últimos exames...
Ainda bem que semana passada tomei várias garrafas de vinho, comi pizza e bebi chocolate quente, porque pelo visto, a tosse bizarra vai me levar a uma vida desgraçada sem cafeína e comidas gostosas... e eu ainda nem comecei a falar do cigarro e da dor de cabeça que me dá por ter que parar com tudo isso.
Pobres coitados os que vão ter que me aguentar até meu estômago melhorar, porque nem eu me aguento.
Aug 13, '07 8:01 PM
Invenções e Avencas
Te inventei para esquecer alguém
E de repente você começou a crescer em mim.
Como uma avenca.
No começo eu deixei porque precisava,
mas de repente isso se tornou tão forte dentro de mim
que agora você está em todos os meus eus,
em todos os meus poros,
em todos os meus pensamentos.
Sinto-me tomada,
entorpecida pelo teu cheiro;
como uma dama da noite que injeta seu perfume
sem dó nem piedade.
Procuro teu rosto em outros rostos
Ouço tua voz a cada instante
Ando pela rua querendo e não querendo
esbarrar em você.
Luto para matar essa avenca que entranha suas raízes no meu ser,
que me dilacera e me faz chorar ao ser preterida,
deixando-me como um santo em penitência
abandonado por D'us em pleno deserto.
E agora o que faço?
Invento outro alguém pra te esquecer?
Divido o meu ser para que um mate a avenca do outro?
Talvez haja uma lua minguante no deserto.
E estrelas que me mostrem o caminho de volta pra casa.
***
Inspiradíssima por CFA
Jun 7, '07 12:38 PM
Preto ou Branco
Não gosto de dubiedades
embora me confesse dúbia.
Não sou fã de cinza,
Ou é preto ou é branco.
Normalmente preto,
mas ultimamente tem sido branco.
Quero atitude
e não dúvidas.
Quero olhar e ter certeza
Sem meio termo,
sem fugas pelas escadas.
Quero um sim,
uma pegada,
uma travada,
um click.
Quero ser desnudada
pelo olhar
pelas mãos
por todos os sentidos
Ser certeza
E não dúvida.
embora me confesse dúbia.
Não sou fã de cinza,
Ou é preto ou é branco.
Normalmente preto,
mas ultimamente tem sido branco.
Quero atitude
e não dúvidas.
Quero olhar e ter certeza
Sem meio termo,
sem fugas pelas escadas.
Quero um sim,
uma pegada,
uma travada,
um click.
Quero ser desnudada
pelo olhar
pelas mãos
por todos os sentidos
Ser certeza
E não dúvida.
May 5, '07 8:47
Sem mais lágrimas
Chorei
pelo que havia voltado a sentir
mesmo sabendo que não poderia.
Chorei
por dez anos passados.
Chorei
pelo tempo futuro longe de ti.
Chorei
por ter de reaprender a acordar só.
Chorei
por querer que tu ficasses
enquanto já ias partir.
Chorei por antes e pelo depois.
Chorei ao te olhar e não conseguir dizer.
pelo que havia voltado a sentir
mesmo sabendo que não poderia.
Chorei
por dez anos passados.
Chorei
pelo tempo futuro longe de ti.
Chorei
por ter de reaprender a acordar só.
Chorei
por querer que tu ficasses
enquanto já ias partir.
Chorei por antes e pelo depois.
Chorei ao te olhar e não conseguir dizer.
Chorei por mim e por ti.
Libertei-me.
Libertei-me.
Jan 13, '07 12:32 PM
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